Lê-se e não se acredita! Como é possível que uma mera campanha promocional de uma empresa de supermercados tenha suscitado tantas emoções e opiniões, comentários e criticas, de tanta gente diferente neste país?
"Aviltante e ignóbil", "terrorismo comercial", "arrogância empresarial", "infame provocação política", "distorção da concorrência", "truque baixo", "operação reveladora de profundo desprezo e desrespeito pelos seus clientes disfarçada de caridadezinha social", "dumping", foram algumas das adjectivações utilizadas para caracterizar uma simples acção comercial.
Aqueles que tinham um interesse directo nesta acção, pelo contrário, nada disseram - os concorrentes - ou só elogiaram - os consumidores. Os outros não se calaram.
Começou com os sindicatos, os primeiros a manifestarem-se criticando o facto de a acção ter sido desencadeada no 1º de Maio, uma provocação aos trabalhadores que os terá afastado das devidas e telúricas comemorações, num ritual falhado pela tentação do consumismo que ultrapassou a devoção religiosa exigida aos eternos "famélicos da fome". Os sindicatos nunca irão perdoar esta irrefutável demonstração de uma luta de classes que preferiu ir às compras.
Seguiram-se depois os partidos políticos de esquerda, com os mesmos argumentos e acusações dos sindicatos: uma inaceitável acção de dumping!
Os concorrentes aparentemente lesados nada disseram, pelo contrário ter-se-ão mordido de inveja por não se terem lembrado antes de fazer o mesmo. Mas os partidos de esquerda e os sindicatos fazendo suas as dores dos outros que eles naturalmente não sentem e apenas fingem, lá vieram para a praça pública invocar a figura do dumping que eles próprios nem sabem o que significa pois se soubessem teriam naturalmente ficado calados.
Vieram depois os fornecedores, de uma forma pouco séria, pôr as barbas de molho, alertando sem qualquer fundamento para a antecipada suspeição de puderem vir a ser eles objecto de notas de crédito para pagar a acção e confirmando aquilo que já se sabia, de não terem sido vistos nem achados, nem sequer informados, da sua realização, tendo sido apanhados tão de surpresa como todos os outros.
No que respeita ao Governo, apenas duas posições diametralmente opostas.
A ministra da Agricultura falou pelos produtores agrícolas, prevenindo para uma alegada, futura e incerta transferência dos custos da acção para estes fornecedores, tal como a Centromarca já havia feito unicamente baseada numa suposição. Pelo contrário, o ministro da economia distanciou-se da acção não lhe dando mais importância do que aquela que ela efectivamente tinha, ou seja, nenhuma. Uma acção meramente comercial de uma empresa privada sem qualquer recurso a ajudas estatais, sem incorrer em abuso de posição dominante que nem sequer possui e sem ter quaisquer efeitos predatórios sobre os concorrentes, que nesse dia também tiveram os seus estabelecimentos abertos e a vender também muito bem, segundo eles próprios reconheceram.
E por fim, a vox populi, das redes sociais e profissionais, dos debates da rádio, e de todos aqueles comentadores da rádio, da televisão e da cassete pirata. Os quais, naturalmente, se aliviaram em função dos seus preconceitos político-sociais, da sua cor partidária, dos seus ódiozinhos de estimação pelas grandes empresas e pelo sistema capitalista em geral.
Sem ideias feitas nem preconceitos como poderemos analisar a acção do PD?
1. Uma genial e brilhante acção de marketing
2. Um forte impacto mediático e de adesão de clientes além das expectativas
3. Um fabuloso encaixe financeiro em termos de volume de vendas num só dia
4. Uma efectiva operação de escoamento de stocks
5. Um verdadeiro caso de estudo e uma lição de marketing
Quais as suas motivações?
1. As vendas do primeiro trimestre de 2012 estavam pela primeira vez em muitos anos a cair, tendo baixado 0,8% relativamente ao mesmo período do ano anterior
2. Havia um excesso de stock de certos produtos, decorrente de um aprovisionamento anormal, efectuado em Dezembro de 2011, antes do aumento do IVA e com o objectivo de aproveitar esta diferença fiscal.
3. Com o abrandamento das vendas já verificado ao longo de 2011 era necessário proceder à "limpeza" das lojas em algumas categorias
Para este fim de semana foram anunciadas novas acções promocionais, mas desta feita não foi apenas o Pingo Doce, foram também o E. Leclerc, o Intermarché e até uma rede de talhos do norte do país que anunciaram descontos de 50% na carne. Isto é, de facto, concorrência à seria. Viva a Distribuição!