Faz este ano cem anos que Henry Ford revolucionou a indústria automóvel ao conseguir produzir o Ford Modelo T em larga escala, de uma forma eficiente e com baixos custos, através da criação de uma linha de montagem para produção em massa.
Desde então temos vindo a assistir a outras grandes inovações que muito contribuíram para mudar a maneira de fazer negócios, nomeadamente, a tecnologia acompanhada pela Internet e a consequente interligação do mundo; a globalização que trouxe melhorias significativas na logística e na liberalização do comércio e dos capitais; e a especialização, que permitiu à maioria das actividades empresariais fazer melhor, mais barato e mais rápido usando fornecedores externos do que criando ou mantendo serviços próprios na empresa.
Comparar hoje qualquer negócio com o seu modelo de há cem anos é comparar o dia com a noite. Uma parcela significativa da actividade laboral das empresas assenta agora em prestadores de serviços externos e fornecedores, praticamente em todos os sectores e áreas do negócio, tais como, a gestão, o marketing, a logística e a tecnologia.
Actualmente, de acordo com recentes pesquisas globais sobre as práticas das empresas (ver Proxima – a global study of cost externalization and its implication on frofitability (2013)http://insight.proximagroup.com/corporate-virtualization), constata-se que estas gastam, em média, apenas 12,5% das receitas anuais com os respectivos custos de trabalho. Em contraste, 70% das receitas são gastos com terceiros, ou seja, com fornecedores externos de produtos e serviços.
Esta tendência, conhecida como “virtualização corporativa” é um fenómeno global e acontece em todos os sectores da indústria sendo o equivalente, no século XXI, à inovação Fordiana de substituir os carros feitos à mão pelas linhas de montagem.
Como implicações desta tendência, temos um acentuar da complexidade na gestão da cadeia de abastecimento, uma maior exigência na coordenação e conectividade de processos e uma forte mudança na gestão do risco.
Foi ainda Henry Ford que disse não serem os negócios máquinas mas grupos de pessoas que se juntam para fazer um trabalho e, de facto, ainda hoje assim é, embora uma leitura actualizada desta afirmação deva incluir nas pessoas não só os colaboradores das empresas mas todos os seus fornecedores e prestadores de serviços.
Tal como um homem é ele e as suas circunstâncias, como dizia Ortega e Gasset, também hoje uma empresa é ela e os seus fornecedores e prestadores de serviços.
As empresas que já o intuíram e praticam estão a adquirir uma vantagem competitiva extraordinária face às outras que ainda não abriram os olhos ou não querem, por preconceito ou autismo, encarar esta realidade.
Mas essas ficarão irremediavelmente pelo caminho das pedras que hoje todas as empresas têm de percorrer. As empresas do passado ainda acham que uma gestão solitária gera ganhos mas as empresas do futuro já sabem que tal prática só acarreta perdas. Tudo está ligado a tudo e os negócios não são excepção. E, entre as empresas, os próximos cem anos não serão, certamente, de solidão.