E agora Trump?

09 Janeiro 2017

Para surpresa de todos, a 8 de novembro passado, com os 270 votos do Colégio Eleitoral, Donald J. Trump foi eleito o 45.º Presidente dos Estados Unidos da América. Da surpresa passou-se ao choque e estado de alerta em vários sectores de atividade, dada a incerteza quanto às políticas que vão ser efetivamente seguidas na administração Trump e do quanto da retórica eleitoral se vai concretizar em medidas reais. O retalho está particularmente atento, porque muitas das suas promessas eleitorais terão um impacto direto na sua atividade. Por todo o mundo está-se na expectativa sobre o rumo que os Estados Unidos da América irão tomar quando Donald Trump se sentar naquela cadeira da Sala Oval. As decisões terão impacto por todo lado, incluindo em Portugal. 

Após serem conhecidos os resultados das eleições norte-americanas, com a vitória de Donald Trump e os republicanos a assegurarem tanto o Senado como a Câmara dos Representantes, as taxas das obrigações portuguesas dispararam, com os juros a atingirem o valor mais elevado desde o Brexit. Segundo uma análise do Expresso, a vitória de Donald Trump põe em causa todo o cenário macroeconómico que sustenta o Orçamento de Estado português para 2017, baseado no crescimento das exportações. Na confessa agenda do presidente-eleito está o regresso dos Estados Unidos a uma atitude isolacionista, contra a globalização, o livre comércio e as importações, aspetos que, no seu entendimento, destroem os empregos dos norte-americanos. 

Ora, os Estados Unidos da América são um dos maiores clientes das exportações portuguesas, o quinto maior, para se ser mais preciso, destino de 5,2% das nossas vendas ao exterior em 2015. Nos últimos cinco anos, as exportações portuguesas para os Estados Unidos cresceram 14,8%, passando de 1.496 mil milhões de euros, em 2011, para mais de 2.567 mil milhões de euros, em 2015, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). O mercado norte-americano é, de resto, o maior destino das exportações portuguesas fora da União Europeia. No ano passado, Portugal estava a exportar menos 12% de bens para o mercado norte-americano, mas, em contrapartida, vende mais 9,1% de serviços. 

Antes das eleições, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa que as importações norte-americanas disparassem de 2,2% para 7,2%. Mas Donald Trump já afirmou, por diversas vezes, que a sua prioridade é o protecionismo comercial, o que ameaça agravar as tarifas aduaneiras, reavaliar os acordos comerciais internacionais e travar as trocas com os grandes fornecedores mundiais, como a China, o México, a Alemanha e o Japão. As consequências envolvem uma dezena de países, incluindo Portugal, que conta com a aceleração da procura externa e das exportações para alcançar as metas definidas para o próximo ano, tanto em termos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) como do défice. Note-se que 80% de todos os bens que Portugal consegue vender ao exterior têm como destino 13 países, entre os quais os Estados Unidos da América. De acordo com o INE, as cinco maiores empresas do país, e que são responsáveis por 15,9% das exportações, concentram metade das suas vendas em três mercados, entre os quais, uma vez mais, os Estados Unidos da América. 

O que tem este mercado de especial? Para além de serem o terceiro maior país e o quarto mais populoso, com um número de habitantes que representa cerca de 4,4% da população mundial, são ainda a maior economia do mundo. O papel que os Estados Unidos têm nas relações comerciais internacionais é, assim, significativo, ocupando o primeiro lugar na lista dos maiores importadores mundiais, de acordo com a AICEP. 

Não é por isso de estranhar o sentimento quanto à incerteza das políticas que serão, de facto, seguidas por Donald Trump. Vai, efetivamente, construir um muro na fronteira com o México e deportar milhões de imigrantes ilegais, que representam um importante grupo de consumidores e de trabalhadores? Vai endurecer as medidas protecionistas, de modo a “devolver a grandeza à América”, bloqueando os acordos de livre comércio, como o NAFTA, com o Canadá e o México, que Donald Trump considera o pior alguma vez assinado, e o Tratado de Livre Comércio e Investimentos (TTIP)? 

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, já manifestou a sua preocupação com os riscos que a eleição de Donald Trump pode ter na Europa. Aponta, precisamente, as consequências económicas devido ao protecionismo já anunciado pelo presidente-eleito, mas também os riscos políticos, com as eleições presidenciais em França e as legislativas na Alemanha e na Holanda no horizonte. E não nos esqueçamos que Donald Trump ainda não desmentiu a sua posição em relação à NATO, de que os Estados Unidos não atuariam em defesa de nenhum aliado que não contribua com para o orçamento de defesa da aliança com 2,5% do seu PIB, o que afeta, diretamente, Portugal.

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